quarta-feira, 24 de outubro de 2007

"...Portanto, ele e eu estávamos à mesma mesa, vez primeira. Eis que passou, rente, uma pega a quem um marinheiro americano acabara de arpoar. O Simão C.C. meteu-lhe a mão sob o vestido e afagou-lhe ternamente o hélice, ao que ela respondeu lançando-lhe um olá sorrido. Só que o americano andava espinafrado de bagaços sortidos, e quis aproveitar para fazer um pouco de teatro. Voltou atrás e debruçou-se sobre a nossa mesa.
«You fucking bastard», disse. «Go shove your mits up yours.»
O Simão sorria como um vento fresco.
«Está bem, vai à vida, velho. Eu conhecer Francette. Okay? Pilhas? Farolas?» Tentou a mímica a fim de reforçar «eu conhecer Francette», de que afastava as sílabas como quem mostra ferida entre cabelos: apontava alternadamente o próprio corpo e o da Francette, metendo pelo meio uma resma de gestos fantásticos significando entendimento: camaradagem, comércio de chatices ou galhofas, dinheiro emprestado incontavelmente em ambas as direcções, uma completa colecção de sexuar fraterno, inocente. Toda a paz.
O americano debruçou-se mais..."

in "A Noite e o Riso" - Nuno Bragança

Um comentário:

Zé-Viajante disse...

Fez-me lembrar a escrita de Mário Zambujal. Lisboeta, gingão...